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23 Fev 2021

Protesto contra Águas do Alto Minho junta cerca de meia centena em Ponte de Lima

Pedro Xavier

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Cerca de 50 pessoas participaram hoje, em Ponte de Lima, num protesto contra a empresa Águas do Alto Minho (AdAM) promovido pela CDU, que defende a devolução da gestão das redes de água e saneamento aos municípios.

A ação começou cerca das 10:00, em frente à loja da AdAM de Ponte de Lima e decorreu durante mais de meia hora sob o olhar distante e atento da PSP.

A constituição da empresa tem sido contestada por vários partidos e pela população de alguns concelhos, que se queixam do aumento “exponencial” das tarifas e do “mau funcionamento dos serviços”.

Adelaide Nobre, proprietária de uma pastelaria, que não tem fabrico próprio e funciona apenas como posto de venda, marcou hoje presença no protesto para dizer que com a AdAM a população “nunca vai viver tranquila”.

“Quando as águas eram geridas pela Câmara de Ponte de Lima eu pagava 120 a 130 euros mensais. Desde que empresa AdAM começou a funcionar, em 2020, recebi um fatura de 700 euros e, este ano, tenho uma fatura de 1.336 euros de 60 dias de consumo”, explicou a empresária.

A empresária adiantou que vai reclamar a fatura: “Não paguei, nem vou pagar. Vou ligar para um número de telefone que me indicaram e fazer uma marcação de atendimento presencial, que segundo o que me disseram será em abril para fazer a devida reclamação”.

Segundo Adelaide Nobre, os valores cobrados “não fazem sentido já que “metade do ano de 2020 foi passado em confinamento, com meia porta aberta”.

“Os clientes nem entravam na loja, não tínhamos atendimento à mesa e não usavam os sanitários. A outra metade do ano foi a trabalhar a 50%”, destacou.

Para a empresária, o desempenho da AdAM é uma “surpresa constante”.

“Nós nunca vamos ficar tranquilos com a AdAM porque mês sim, mês não temos uma fatura exorbitante que é impossível. Não andei a regar os jardins, tenho um consumo normal. A gestão das águas devia voltar à sua origem”, defendeu a empresária, de 45 anos, que vive em Ponte de Lima há 20.

Lurdes Vaz, reside na freguesia de Fontão, disse que se sente “roubada”.

“Isto é um roubo que nos estão a fazer. A água é um bem essencial. Eu pagava oito euros, 10 euros no máximo por mês, quando era no tempo da Câmara. Agora vejam para o valor que foi. Num mês destes veio-me uma fatura de 20 euros para pagar e mais 80 euros das faturas amarelas”, disse, referindo-se às faturas que a empresa começou a enviar em janeiro relativas ao início da regularização dos consumos não faturados em 2020, na sequência de erros de faturação que afetaram 15 mil consumidores.

Lurdes não tem por hábito participar em manifestações, mas hoje “não podia ficar calada”.

“Conheço pessoas que por várias razões não puderam estar aqui e que têm valores que triplicam os das minhas faturas. E nós vamos ficar todos calados? Não. Sinto-me roubada, muito revoltada e prejudicada. É por isso que aqui estou, porque nem costumo, mas hoje achei que devia vir, por mim e pelos que não podem cá estar”, reforçou.

Céu Amorim vive na freguesia de Poiares e empunha um cartaz onde se lia “Basta”. Auxiliar numa escola, Céu veio manifestar o seu “descontentamento” pela “gerência” da empresa.

“Não faz sentido cobrarem os valores que têm cobrado. Já recebi as faturas amarelas e o valor não tem justificação. Ainda agora vim à loja da AdAM para pagar uma fatura da minha sogra, porque ela não tem cartão multibanco e tem de ser por marcação para poder pagar. Isto não está a funcionar bem”, afirmou.

Céu Amorim adiantou que o valor das faturas da água “subiram para o dobro”.

“Eu pagava seis, oito euros, às vezes nos acertos no máximo 10 euros. Agora não, pago o dobro disso”, afirmou.

José Santos tem 72 anos e vive da reforma de pasteleiro. Hoje quis juntar o seu “descontentamento” à população “dos sete concelhos” que integram a empresa pública.

“Pago muito mais agora. Ainda no outro dia me tiraram da conta nove euros, passado uns dias quase 10 euros e tenho já lá outra fatura de 26 euros. Fui para Lisboa no dia 15 de dezembro, voltei a Ponte de Lima no dia 07 de janeiro, não tenho consumos e é sempre a pagar. O que se gasta gosto de pagar, mas agora pagar-se o que não se gasta é ridículo”, referiu.

O deputado da CDU na Assembleia Municipal de Ponte de Lima, João Monteiro, explicou que o protesto integra-se na campanha “Erros, desculpas, tarifas, mentiras. Basta. Recuperar a água como um bem público”, lançada na semana passada pelo partido.

“Tem sido visível todos os dias o amontoar de pessoas junto à loja da AdAM, pessoas frustradas, julgo eu enganadas por esta adesão do município a esta empresa. São constantes erros de faturação, linhas telefónicas que não funcionam ou se funcionam são muito deficitárias, enfim, um rol de situações que vão ao encontro da nossa posição na Assembleia Municipal, que foi o voto contra”, afirmou o deputado comunista.

João Monteiro disse suspeitar que “a empresa foi criada com outros objetivos”, e que “com o passar dos anos irão confirmar-se”, referindo-se à privatização das águas.

“Este contrato foi negociado por 30 anos, ou seja, irá vincular os presentes e os vindouros que em nada contribuíram para esta situação”, avançou.

O deputado da CDU criticou o tarifário aplicado no concelho de Ponte de Lima por “seguir a bitola do praticado em Viana do Castelo”, capital de distrito.

“Viana do Castelo é uma cidade, que tem porto de mar, tem comboio, tem outras infraestruturas que Ponte de Lima não tem. Como tal porque é que os outros municípios têm de seguir esse valor. É injustificável”, apontou, referindo que a “única solução passa pela reversão da criação da empresa”.

“A gestão da água tem de voltar à esfera do município de Ponte de Lima”, reclamou.

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